domingo, 28 de março de 2010
Dance of the sugar plum fairy
Breathe in, breathe out. Breathe in, breath out. In... out.
O corpo dela bailava suavemente ao sabor das inspirações que a arrastavam para cima, das expirações que a empurravam para baixo. Sentia-se, segundo a segundo, cada vez mais. Tomava consciência de si, imersa naquela água com odor a baunilha. Submersa, ouvia cada bater do seu coração, e, lá ao fundo, uma lista interminável de acordes e notas musicais que se sucediam de uma forma sublime. Não era grande fã de música clássica, mas lá se decidiu experimentar. E que melhor altura do que um encontro com si mesma? A luz tremelicante e fraca das velas teimava em alumiar a escuridão em que se sentia; essa escuridão, esse desassossego não eram acalmados pelo toque da água quente, pelo cheiro dos sais, pelo ar denso que nela entrava.
"Como sossegar? Como continuar? Onde estão as forças?"
Pontos de interrogação inundavam-lhe a mente, juntos com aquela música que amava pela primeira vez, numa dança neuronal inebriante que poderia ter apenas um desfecho... olhava as suas veias, dilatadas, sentia o sangue quente correr dentro de si, sentia a vibração da música, sentia-se no meio de nada, sentia-se no meio de tudo, sentia-se, queria sentir-se mais. A música em crescendo e o sangue quente a fugir dela, a música sempre mais alta e com mais força, alimentar-se-ia do néctar que escorria pela mão dela? O aço frio e cortante jazia no chão, molhado de água, de lágrimas e de sangue.
Breathe in, breathe out, breathe in, breathe...
Calou-se a música quando o corpo, pálido e sereno, se deixou descansar. De vez.
Dance of the sugar plum fairy - Tchaikovsky
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